Poesia

[CRÍTICA] O que o Sol faz com as flores (Rupi Kaur, 2017)

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Neste seu segundo trabalho, a autora Rupi Kaur traz mais uma obra poética intimista, retratando sua vida, sua história e seus anseios, ligando-os às vidas de tantas outras pessoas que se identificam com seus poemas. Em cada seção deste livro, somos apresentados a algum novo aspecto que a autora deseja retratar, por meio do seu conhecido minimalismo, nos unindo à história de sua própria vida.

Rupi Kaur tornou-se sucesso mundial com seu primeiro livro de poesias, Outros jeitos de usar a boca (2014) — falarei deste em um momento oportuno. O estilo da autora é marcante e se mantém nesta obra: minimalista, poucas linhas, poemas objetivos, embora alguns sejam um pouco mais extensos neste seu segundo livro. Os temas: autodescobrimento, superação, feminilidade, origens, etc., são também recorrentes. Não há que se reclamar da autora nesse aspecto: ela possui estilo e personalidade.

Todavia, isso não implica dizer que O Que o Sol faz com as flores seja uma boa obra. Muito mais do que simples intenções precisam ser levadas em conta; a poesia requer talento e capacidade técnica, talvez ainda em mais intensidade do que na escrita de romances, por exemplo. E, para esta autora — seu primeiro livro também me passou essa impressão, — falta muito de ambas as qualidades. O vocabulário é restrito; os temas são repetitivos; as divisões de versos às vezes parecem arbitrárias; e os assuntos abordados, em muitos casos, são rasteiros, pouco relevantes, e desinteressantes.

Não sei dizer se suas poesias funcionam melhor na língua em que foram escritas (inglês); o que se pode afirmar, porém, é que em português elas não “colam”, para usar um linguajar mais despojado. Sim, a poesia de Rupi Kaur tenta ser despojada, mas consegue apenas ser vazia. Eu poderia implicar, naturalmente, com o excesso de apelo sexual e o caráter “masturbatório” de certos poemas contido no livro, mas há quem goste disso. A “poesia da cintura pra baixo” não é o problema aqui. A técnica poética, sim, é o calcanhar de Aquiles da obra.

Não serei injusto em dizer que não há inteligência e algum talento na autora. Pelo contrário, algumas ideias contidas neste livro são interessantes, e nota-se que a autora é, de fato, uma mulher com alto nível de sagacidade e percepção. Sua deficiência está, percebe-se, em colocar tais ideias no papel. Claro, não me surpreendo com o sucesso que a mesma faz; afinal, livros como Cinquenta Tons de Cinza (E. L. James, 2011) são extremamente bem-sucedidos, mesmo sendo de baixíssimo nível. Poesia por poesia, prefiro a obra nacional Poesia que transforma (Bráulio Bessa), da qual pretendo falar em breve — para ficar apenas nas mais recentes.

O que o sol faz com as flores é um livro é bem-intencionado, porém fraco. Em minha opinião, poesia é mais do que isso; é mais que simplesmente escrever o que vem à mente, é fazer uso de técnicas de escrita para transmitir ao leitor os sentimentos que se quer passar, brindando-o com uma obra bem lapidada e que salta aos olhos. Poesia não é para amadores. Ou, para resumir,

escrever uma frase

em várias linhas

e com letras

minúsculas

não a torna

um poema.

Simples assim.

Nota: 4,3

Um comentário em “[CRÍTICA] O que o Sol faz com as flores (Rupi Kaur, 2017)

  1. Concordo. Falta, técnica. Talvez a autora possa amadurecer com as críticas ou então se dar conta que há várias formas de se expressar.

    Fugir do campo da “lacradora” para o da poeta sagaz.

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