Distopias · George Orwell · Top 5

1984 (George Orwell, 1949)

Spoilers moderados

O que faz uma boa distopia é a sua capacidade de, utilizando-se de um mundo fictício e de situações grotescas, exageradas, inverossímeis, nos fazer pensar em nosso próprio mundo e na realidade em que vivemos. Quando a obra distópica é eficiente, nós logo reconhecemos às críticas que ela faz à sociedade. Se o brilhantismo dessa crítica consegue atravessar as décadas, se mantendo sempre atual, então essa distopia é ainda mais relevante. E é por ter essas características principais (proximidade com nosso mundo e uma crítica atemporal), além de não nos prometer um final feliz, mas apenas a realidade (fantasiada de ficção), é que eu considero 1984 (George Orwell, 1949) a melhor distopia de todos os tempos.

O que Orwell já havia iniciado em A Revolução dos Bichos (1945) toma sua conclusão nesta obra: de forma brilhante, o autor expõe a perversão do governo, que deixa de ser um servidor do povo governado para se tornar um escravizador, vigiando cada passo, cada movimento, cada pensamento de seus cidadãos, a fim de localizar qualquer fagulha de rebelião, ou meras divergências ideológicas, para logo em seguida extirpar tal perigo da sociedade, da forma mais cruel e desumana possível.

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Distopias · George Orwell

A Revolução dos Bichos (George Orwell, 1945)

Nunca fui fã de livros “mastigados”, em que o sentido do que está escrito é exposto – jogado na cara, por muitas vezes. Um bom livro deve levar o leitor a pensar, a refletir, a buscar os sentidos presentes no texto. Uma boa obra levanta questionamentos sem, contudo, resolver todas as questões, fazendo o leitor tomar parte na busca pelo entendimento. Para leitores como eu, A Revolução dos Bichos (George Orwell, 1945) é um prato cheio.
Escrito por um dos maiores autores ingleses da história (possivelmente o maior deles no século XX), o livro critica e expõe características cruéis – porém muito reais – da ascensão do comunismo ao poder, notadamente aquela ocorrida na Rússia, posteriormente URSS. Tudo isso, claro, com extrema qualidade, em uma narrativa aparentemente simples, mas que suscita a reflexão do leitor, e que se tornou, com justiça, um grande clássico da literatura mundial.
Na Granja do Solar, os animais, sob a liderança dos porcos Bola de Neve e Napoleão, se revoltam contra os humanos, buscando uma vida melhor, de menos trabalho e condições mais dignas. Feita a revolução, os animais vencem e governam a si próprios, sem a interferência humana. A realidade, porém, se mostra cruel: as regras que regem a sociedade dos animais são frágeis e mudam ao bel-prazer de seus governantes.
Repleta de metáforas, a obra consegue simplificar uma realidade profunda e complexa, em que os ideais iniciais (bem intencionados, é verdade) se perdem no tempo, fazendo com que seja cada vez mais difícil diferenciar o passado pré-revolução do presente, ou o bem do mal (no fim das contas, para os animais, já não há diferença entre os homens e os porcos).
Se assemelhando a 1984, do mesmo autor (ainda que de forma não tão brilhante), A Revolução dos Bichos progride em sua história nos mostrando uma realidade profundamente cruel e sombria, onde os animais são cada vez mais oprimidos por seus pares, não havendo, em absoluto, qualquer esperança de mudança em tal situação. Somos comprimidos à medida que notamos o gigantismo daqueles que estão no topo da pirâmide (os porcos), oprimindo cada vez mais os seus semelhantes animais, apoiados em um violento exército (os cães) e referendados por uma massa acéfala (as ovelhas).
O maior desconforto que o livro traz é, certamente, a brutal semelhança com a realidade vivida por muitos países que foram submetidos a regimes comunistas (ou similares). Uma autodenominada luta pela igualdade que, inevitavelmente, culmina em opressão, em violação das liberdades individuais e em um abismal distanciamento entre governantes e governados. A Revolução dos Bichos (como todo bom clássico) é um livro assustadoramente atual.

Nota: ✩✩✩