Romances · Top 5

[CRÍTICA] O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë, 1847)

download

Registrar o amor na literatura é, em geral, uma árdua tarefa. Se o romance não for elaborado com habilidade, ele acaba descambando para a pieguice (em livros como Cinquenta Tons de Cinza). Muita técnica, porém, pode tornar o romance pouco crível, frio, distante da realidade. Em O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë, 1847), porém, a tarefa foi executada com maestria: temos aqui o ápice do romance.

Ao chegar à Granja da Cruz do Tordo, o Sr. Lockwood decide conhecer os vizinhos do Morro dos Ventos Uivantes. Intrigado com a estranha família e o ar taciturno de seu anfitrião, Heathcliff, o Sr. Lockwood pede à Sra. Dean, sua governanta, que lhe conte a história daquelas pessoas. Assim, ele é apresentado a um belo e profundo drama familiar, que o leva a refletir sobre os extremos desse complexo sentimento chamado amor.

Continue lendo “[CRÍTICA] O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë, 1847)”

Romances · Top 5

O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry, 1943)

maxresdefault

Escrever um bom livro é algo que a maior parte dos autores não consegue fazer. Criar um clássico da literatura é uma tarefa para um número ainda mais restrito de escritores. São realmente poucos os que conseguem fazê-lo. O desafio supremo, porém, é um criar um clássico que seja ao mesmo tempo profundo e simples. Fazer valer a máxima do menos é mais. E aqui temos a obra que atinge a perfeição nesse aspecto: O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry, 1943).

O Príncipe é um menino que vive no asteroide B-612, cultivando uma rosa e revolvendo seus pequenos vulcões. Decidido a conhecer o universo, ele “pega carona” em um cometa, alcançando novos planetas. Assim, ele tem a oportunidade de aprender importantes lições sobre o amor, a amizade e sobre como, conforme crescemos, deixamos de enxergar o essencial para nos ocuparmos do supérfluo. O cativante príncipe, ao longo de sua jornada, acaba por nos levar a refletir profundamente sobre nós mesmos. Continue lendo “O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry, 1943)”

Romances · Top 5

O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde, 1890)

Falando sobre As Crônicas de Nárnia (C. S. Lewis, 1949-1954), mencionei a admiração que sinto pelos autores britânicos. Entre eles – claro – figura Oscar Wilde, escritor e dramaturgo famoso por seu estilo polêmico, ácido e deliberadamente crítico para com a sociedade e suas convenções. No seu único romance, O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde, 1890), ele leva seu estilo ao ápice, criando uma das mais belas e relevantes obras da literatura inglesa – e também mundial.
Dorian Gray é um jovem londrino que logo cai nas graças de Basil Hallward e de Lorde Henry, devido à sua beleza, jovialidade e sensualidade. Basil, pintor, eterniza a beleza de Dorian em um belíssimo quadro-retrato. O quadro, porém, desespera Dorian e torna-se sua obsessão – o jovem inveja a obra, que se manterá sempre com a mesma aparência, ao contrário dele próprio, que irá, com o tempo, definhar e perder sua beleza.

O livro é, sem dúvidas, aquele com a maior quantidade de boas frases por página que já li até hoje. Sensacionais diálogos, carregados de ironia e depravação, bem como conselhos no mínimo questionáveis e comentários que, em outras situações, beirariam o ofensivo, permeiam as páginas da obra de Wilde. O talento do autor, porém, não permite que o livro se torne desagradável; pelo contrário, é com maestria que ele nos diverte, colocando tais frases na boca de seus personagens, eximindo-se da responsabilidade de opinar sobre tantos assuntos polêmicos.
Falando em personagens: eles são charmosamente brilhantes. O pintor Basil Hallword, apaixonado pela beleza de Dorian, mas que não se permite avançar muito para além dos limites do bom senso e da moral; o jovem Dorian, fascinado com a vida e suas possibilidades, porém dotado de um narcisismo que o faz desejar trocar a própria alma pela beleza eterna; e tantos outros que, mesmo com participações menores, possuem grande importância no desenvolver da trama. Quem rouba a cena, contudo, é Lorde Henry: dele provém as melhores frases (carregadas de opiniões cínicas, blasfemas, misóginas, depravadas e politicamente incorretas) e a influência que mudaria os rumos da vida de Dorian.

O livro, como um todo, é uma grande crítica à sociedade inglesa da chamada Era Vitoriana (com sua fixação por classes sociais, famílias e hábitos sociais), mas acima disso, é uma crítica ao próprio ser humano: hedonista, apegado por demais à aparência física (principalmente a sua própria) e desconhecedor da dimensão que os próprios desejos podem assumir, e para onde suas preces podem levá-lo. O homem seria, por fim, obcecado por manter sua juventude eterna e por, também, livrar-se da responsabilidade de sua própria vida e de seus atos.
O Retrato de Dorian Gray é uma obra atemporal politicamente incorreta, debochada, crítica, cínica e carregada do charmoso deboche típico de Oscar Wilde. Subversivo, não se importa em tratar de temas como adultério e homossexualismo. É um daqueles que livros que manterá vivos na cultura popular seus personagens, bem como suas marcantes frases. Será sempre relevante e nos fará questionar, a todo o momento, o preço que aceitamos pagar por aquilo que queremos – e se, ao fim, será aquilo mesmo que intimamente queríamos.

Nota: ✩✩✩✩✩
Distopias · George Orwell · Top 5

1984 (George Orwell, 1949)

Spoilers moderados

O que faz uma boa distopia é a sua capacidade de, utilizando-se de um mundo fictício e de situações grotescas, exageradas, inverossímeis, nos fazer pensar em nosso próprio mundo e na realidade em que vivemos. Quando a obra distópica é eficiente, nós logo reconhecemos às críticas que ela faz à sociedade. Se o brilhantismo dessa crítica consegue atravessar as décadas, se mantendo sempre atual, então essa distopia é ainda mais relevante. E é por ter essas características principais (proximidade com nosso mundo e uma crítica atemporal), além de não nos prometer um final feliz, mas apenas a realidade (fantasiada de ficção), é que eu considero 1984 (George Orwell, 1949) a melhor distopia de todos os tempos.

O que Orwell já havia iniciado em A Revolução dos Bichos (1945) toma sua conclusão nesta obra: de forma brilhante, o autor expõe a perversão do governo, que deixa de ser um servidor do povo governado para se tornar um escravizador, vigiando cada passo, cada movimento, cada pensamento de seus cidadãos, a fim de localizar qualquer fagulha de rebelião, ou meras divergências ideológicas, para logo em seguida extirpar tal perigo da sociedade, da forma mais cruel e desumana possível.

Continue lendo “1984 (George Orwell, 1949)”

Romances · Top 5

O Sol é para Todos (Harper Lee, 1960)

Muitos livros se tornam relevantes por abordar, de forma brilhante, assuntos polêmicos, cujo debate, porém, é fundamental à evolução da sociedade. Alguns abordam tais assuntos de forma aberta, demonstrando toda a crueldade que eles carregam – por exemplo, 1984 (George Orwell, 1949). Já outros tocam nesses temas de forma leve, doce, nos fazendo transitar entre a beleza das situações descritas com o sofrimento dos que passam por injustiças. Pouquíssimos, livros, entretanto, conseguem ser tão relevantes e ao, mesmo tempo tão amáveis quanto O Sol é para Todos (Harper Lee, 1960).
Em minha crítica sobre o livro O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares (Ransom Riggs, 2011) eu mencionei que um dos grandes problemas dessa obra era a sua narrativa em primeira pessoa. Já em O Sol é para Todos, essa é uma das maiores virtudes. Uma belíssima e cativante narrativa em primeira pessoa, conduzida pela protagonista, nos mostra a dura realidade do racismo nos EUA sob a ótica de uma simples criança.

Continue lendo “O Sol é para Todos (Harper Lee, 1960)”