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[CRÍTICA] O Caso dos Exploradores de Caverna (Lon L. Fuller, 1949)

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A obra que é objeto de comentário da presente crítica traz uma peculiar e interessantíssima questão. Partindo de uma premissa simples, porém cruel, o autor nos leva a um profundo debate a respeito de temas como culpa, crime, exceções, desespero e o que caracteriza o ser humano e a sociedade em si, em momentos extremos, nos quais nunca imaginamos estar presentes. Esta obra é, meus caros, O caso dos exploradores de caverna (Lon L. Fuller, 1949).

Cinco exploradores de caverna sofrem um acidente, no qual ficam presos dentro de uma profunda caverna, bloqueada agora por pesadas rochas. Em seu socorro vem uma estruturada equipe que, mesmo tendo todos o aparato necessário, acaba por perder vários trabalhadores em mais um deslizamento. Dispondo de um rádio comunicador, os exploradores de caverna mantêm contato com o exterior e fazem uma importante pergunta: quanto tempo haveriam de sobreviver sem alimento, naquelas condições? Diante do grave quadro, uma terrível decisão tem que ser tomada: um dos cinco exploradores precisa ser morto, para que sua carne alimente os outros quatro até que o resgate seja realizado.

Esta obra é um clássico da literatura mundial e é leitura obrigatória na maior parte dos cursos de Direito do país. O motivo é bastante claro, quando da leitura do texto: trata-se de um criativo problema de cunho jurídico que suscita diferentes interpretações a respeito do ocorrido. Cada avaliador do caso — os juízes (ou ministros) da Suprema Corte do fictício país de Newgarth — coloca na discussão o seu ponto de vista, argumentando, fartamente, sobre os motivos que o levaram a tais conclusões.

A escolha do autor, retratando um lugar inexistente, num futuro muito distante — o ano de 4300 — serve para desvincular a narrativa de qualquer sociedade que conhecemos, evitando analogias que empobreceriam a análise do caso em si e o argumento dos juízes do caso. Partimos, portanto, “do zero” em relação ao caso dos exploradores de caverna, e nos deparamos com uma trágica situação que pode ter — mantido o veredito da primeira instância — também um trágico desfecho.

Sim, de fato, um dos cinco foi morto, e foi devorado pelos demais — não há spoiler aqui, visto que a situação e seu desfecho nos são contados nos primeiros parágrafos do livro. Não se trata de uma narrativa com início, meio e sim — padrão, por assim dizer. Temos um fato que nos é narrado logo de início; a partir dele, se delineiam suas repercussões, com base nos argumentos de cinco juízes, que têm o poder de manter, ou reformar, a decisão do juiz inicial, que determinou o enforcamento dos quatro sobreviventes da caverna. Os votos estão longe de ser unânimes: há provocações, discordâncias e omissões que escancaram o importante fato de que, por mais que nos esqueçamos disso, juízes são seres humanos, sujeitos a todas as intempéries emocionais que caracterizam nossa espécie.

O caso dos exploradores de caverna é um interessante livro de provocação jurídica que nos leva a refletir sobre os extremos aos quais um ser humano pode chegar, e as decisões — pode-se dizer que racionais — que ele toma em tais circunstâncias; e, mais ainda, é uma obra que nos leva por todas as possibilidades de julgamento que poderiam recair sobre tal terrível acontecimento, costurando seu desenvolvimento pelo entendimento de cinco diferentes juízes, com seus profundos argumentos. É um clássico para ser lido e apreciado por todos.

Nota: 10,0

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